sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Izabel: Do Jequitinhonha, do Mundo

Os fiéis admiradores da arte em barro do Vale do Jequitinhonha, não podem deixar de visitar a exposição que acontece até março na Galeria Estação. A exposição apresenta as famosas e premiadas bonecas de barro de Izabel Mendes Cunha. Hoje com 85 anos, Mestre Izabel, como é conhecida, nasceu no município de Itinga, Vale do Jequitinhonha, na fazenda Córrego Novo. A artista criou ao redor de si uma escola de ceramistas que envolve todos os membros de sua família e outras centenas de famílias da região. Classificada como uma das áreas economicamente mais pobres do país, a região apresenta hoje diversas comunidades de artesãos que produzem uma rica variedade de arte em barro graças ao legado de Mestre Izabel. Hoje, já orientados e capacitados através de projetos de geração de renda, a produção ceramista do Vale do Jequitinhonha é reconhecida como patrimônio legítimo da cultura popular brasileira e premiada internacionalmente. Escultora premiada - UNESCO (2004), a Ordem de Mérito Cultural do governo brasileiro (2004) -, a obra de Dona Izabel figura em livros e ensaios de estudiosos de arte e cultura brasileiras. As famosas bonecas do Jequitinhonha hoje fazem parte do inconsciente coletivo do povo brasileiro e, há muito, ultrapassaram o território nacional para conquistar prestígio internacional. Esta primeira exposição individual de Dona Isabel em galeria, é contudo, uma rara oportunidade para o público apreciar um conjunto representativo de sua obra. As 18 peças selecionadas do acervo da Galeria Estação fornecem um panorama da arte em cerâmica que surge das mãos desta extraordinária retratista da população feminina. Ao adaptar moringas de barro a corpos de mulheres, Dona Izabel acabou por construir uma produção extremamente vigorosa, como poucas, capaz de expandir a geografia de sua terra, o Vale do Jequitinhonha. Caboclas, brancas, negras, mulatas, pobres ou ricas, "todas filhas de Deus", conforme costuma afirmar Dona Izabel, são personagens do seu imaginário. "Arte que reflete o feminino, no roliço dos corpos, na sensualidade discreta, mas presente nas bocas carnudas e vermelhas, nos adereços móveis agregados à escultura - brincos, grinaldas, chapeuzinhos redondos como coroinhas, buquês de flores, pássaros -, bem como naqueles apostos aos vestidos de festa, como o das noivas", comenta Lélia Coelho Frota, no texto do catálogo da exposição. Segundo a crítica de arte que há mais de 30 anos dedica-se ao estudo da criação de fonte popular, Dona Izabel retrata as mulheres em momentos solenes de festa ou de saídas profanas, com rostos modulrados por penteados elaborados, crespos, cacheados, lisos com franjas, entre outros estilos. "O tratamento cromático e gráfico das vestimentas, em geral sóbrio - pois toda a inflexão destas esculturas visa conduzir o nosso olhar para os verdadeiros retratos que constituem as cabeças - pode ainda representar soluções ousadas de modernidade no trânsito pela figura", completa Lélia Coelho Frota. A exposição acontece de segunda a sexta, das 11h às 19h. Sábados, das 11h às 15h. Até 10 de março. Entrada gratuita. Galeria Estação - Rua Ferreira de Araújo, 625. Pinheiros. São Paulo-SP. Telefone: 11 3813 7253. www.galeriaestacao.com.br