quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Natal com Propósito


Nos meses de março e abril, época da florada, homens, mulheres e crianças se dirigem aos campos rupestres de Diamantina. São apanhadores de sempre-vivas, assim chamadas porque, depois de colhidas e secas, conservam a beleza e a delicadeza por longos períodos. Pé-de-ouro, minissaia, chapadeira, cachorrinha, vargeira - são muitas as espécies conhecidas como sempre-vivas. A área de maior ocorrência é a Cadeia do Espinhaço, maciço montanhoso que se estende do norte de Belo Horizonte à Chapada Diamantina. 

As sempre-vivas florescem próximos ao cerrado. Algumas são endêmicas, de ocorrência exclusiva em determinada região. Todos os anos, toneladas dessas flores são arrancadas dos campos nativos. Cerca de 80% são destinados à exportação. Há 30 anos, as sempre-vivas eram encontradas perto de cidades e povoados. 

As flores rarearam e hoje os apanhadores percorrem longas distâncias e, como não podem mais ir e vir no mesmo dia, são obrigados a montar ranchos ou acampar sob lapas para coletá-las. 
Portal de entrada do Vale do Jequitinhonha, uma das regiões mais pobres do país, a região viveu dias de glória com a mineração de diamantes. As pedras, porém, minguaram, levando garimpeiros a se aventurarem pelos campos floridos como única fonte de renda disponível. Hoje, várias espécies estão ameaçadas de extinção. A coleta indiscriminada, as queimadas para renovação de pastagens para pecuária extensiva, pisoteio do gado e diminuição das chuvas são algumas das causas. 

Para reverter esse quadro, algumas entidades criaram um projeto cujo objetivo básico é a busca de subsídios para o uso sustentado dessa espécie de flor, difundindo técnicas de manejo para exploração sustentável de sempre-vivas e buscando alternativas de renda para as populações que vivem do extrativismo dessas flores. 

Integrados ao Projeto, os artesãos acordam cedo e percorrem o campo em busca de sementes, botões de flores silvestres, musgos, liquens, coquinhos (coco-do-cerrado, macaúba, buriti) e capas de coco (proteção que nasce sobre os cachos dos coquinhos), matérias-primas comuns nos campos da Chapada nas quais trabalharão durante a tarde, transformando-as em objetos de beleza rara. 

Seguindo este exemplo, vários apanhadores estão deixando a atividade que os sustenta há tantos anos para se dedicar ao artesanato na oficina da comunidade rural onde moram e que até então dependia diretamente do extrativismo de sempre-vivas. A oficina já conta com 32 artesãos e aprendizes cadastrados, homens, mulheres e adolescentes. A condição exigida para trabalhar lá é não utilizar as espécies ameaçadas de extinção. Os objetos produzidos aliam a preservação ambiental e busca de alternativas de renda e melhoria da qualidade de vida das populações locais.

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