quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Produtos com Propósito
















http://vimeo.com/52826809

Introduzida no Brasil no período colonial, a renda renascença difundiu-se rapidamente no Nordeste brasileiro especialmente em Pernambuco e Paraíba. A técnica teve sua origem na ilha de Burano, em Veneza, Itália, no século XVI e foi trazida por freiras europeias que se fixaram em Olinda, Pesqueira e Poção.

Era uma arte proibida que não podia atravessar os muros da igreja mas que passou a ser compartilhada “ilegalmente” entre as mucamas que acompanhavam as sinhazinhas dentro dos internatos e tinham acesso à técnica dominada pelas freiras. Desde então, transmitida de geração em geração e herdada por mães, avós ou tias, a tradição chegou a outros estados e hoje abriga milhares de mulheres rendeiras na região do semi-árido brasileiro.

Estilo de renda feita exclusivamente a mão com traços marcantes onde predomina um intricado de códigos de nós, pontos e entrelaçados, a renda renascença é um tecido construído e estruturado pela própria rendeira. Nela, os motivos do desenho são feitos à medida que a rendeira produz o fundo que estrutura o tecido. É confeccionada com agulha, linha e lacê de algodão. Cada ponto é nominado segundo elementos da natureza, comidas, ou expressam sentimentos e esperanças de suas artistas: aranha, abacaxi, traça, cocada, xerém, amor seguro, laço, sianinha, malha e amarrado. À procura da claridade necessária à produção da minúscula renda, as mulheres tradicionalmente bordam nas portas de suas casas.

Devido ao longo e rigoroso período de secas, no final da década de 90, a Região do Cariri paraibano apresentava baixíssimos índices pluviométricos e de desenvolvimento humano (IDH), além de sério processo de desertificação, o que reduzia todas as suas possibilidades de desenvolvimento. A histórica atividade da renda renascença estava em declínio, condicionada a uma relação comercial desfavorável, quando as rendeiras vendiam suas peças a preços irrisórios para os poucos intermediários que ousavam desbravar esse território.

Para resgatar essa atividade e transformá-la em uma alternativa de desenvolvimento sustentável para essas comunidades, surgiram diversos programas e iniciativas governamentais. Centenas de rendeiras organizadas por associativismo se integraram às ações que buscavam recuperar a qualidade dos produtos, estimular a prática associativista e descobrir novos mercados como forma de criar oportunidades de trabalho e renda digna por meio de seus talentos e produções de tradição.

Presentes até hoje, esses programas representam para estas mulheres a oportunidade de uma revolução que as liberta da domesticidade e as torna autônomas de sua condição financeira e social. Hoje, a técnica da renda renascença, adquirida pelos colonizadores há mais de um século como herança cultural é o acesso a dignidade para essas milhares de mulheres do agreste brasileiro.

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